Conhecer a Si e ao Outro
Situação: “Cinco mulheres chorando no funeral do amado”.
Pergunta: Por que choram? Por que estão tristes?
M1: Perdi o pai dos meus filhos, ele os educava como nunca vi? Quem os educará agora?
M2: Ele me fazia sorrir, aprendi tanto com ele, era cuidadoso e sensível. Quem será o meu parceiro agora?
M3: Eu nunca trabalhei, ele pagava as minhas contas, da minha casa e filhos. E agora, o quê será de mim?
M4: Ele foi o homem mais nobre quem já conheci, o mundo hoje perdeu uma boa pessoa. Fiquei sem heróis, sem sentido na vida.
M5: Um pouco de todas anteriores.
Reflexão: Somos o quê fazemos (emoção e comportamento) ou os por quês fazemos (os pensares provocadores das emoções e sentimentos)? Assim, quando alguém é conhecido?
Como conhecer o outro se não pela sua forma de pensar, a qual provoca os seus sentimentos, saber desses somente não implica em saber quem está à frente. A busca de conhecer` o outro não é imediata, ela é enraizada e observada a partir das compreensões das formas de pensar que possibilitam os sentimentos, comportamentos e raciocínios de alguém.
Conhecer a si ou ao outro implica em saber quais são pensares e/ou valores que provocaram determinados sentimentos, e/ou comportamentos e/ou outros pensamentos.
Um dos melhores momentos para conhecer alguém é quando este não se preocupa com os efeitos do que pensa, ou seja, geralmente em momentos de muito poder (sem medo), sofrimento, intensa alegria e embriaguês.
Um grande problema, provável inclusive, do conhecer a si ou ao outro, é a dor, de perceber ser menos belo ou louvável do que acreditava ser.
Apesar das possíveis dores, ocorrem algumas interessantes possibilidades: saber com quem se está lidando; desenvolver um agradável afeto; aumentar a probabilidade de um melhor relacionamento; não criar expectativas “hollywoodianas” e/ou desumanizadoras com relação a si e aos outros; e aprender a saborear relacionamentos reais, podendo prescindir assim de mitos ou fantasias para viver.
Entretanto, conhecer o outro cria também a potência de ver belezas onde a aparência era de feiúras. Por exemplo: uma juíza está por julgar um criminoso por ter tirado a vida da própria filha, tendo a matado com uma série de injeções de morfina. O júri está essencialmente decidido em direção à culpa, até o advogado de defesa perguntar ao pai, em frente a todos, as causas de suas ações, explicando o câncer da filha e as dores constantes dela, assim como inúmeros momentos em que implorou a ele para acabar com o sofrimento dela, após seis meses de pedidos, enquanto ela está dormindo, ele aplica o remédio final dela, de acordo com ela.
Conhecer a si e ao outro aumenta a possibilidade, inclusive, de um julgamento mais justo.
Dois comuns erros na busca de conhecer ao outro:
Mesmas atitudes por causas diferentes
Um homem quando com dificuldades frente sua noiva torna-se quieto por estar pensando em separação, até o momento dessa ocorrer. Em uma nova situação com outra mulher, quando a vê quieta, começa a ficar inseguro por achar que ela está refletindo sobre separação, quando, de fato, está raciocinando sobre a possibilidade de morar junto, mas não quer conversar com ele naquele momento. Nesse momento a confusão foi pensar ser o outro igual a si mesmo, onde as atitudes eram iguais, mas não as causas (postura).
Situações e sentimentos similares, posturas diferentes
Alguém perde seu ente mais querido. O amigo, alguns anos depois, passa pela mesma situação, os sentimentos são similares. O primeiro diz: eu sei pelo quê você está passando, em termos de emoções é verdade, mas as causas não, pois as importâncias da pessoa perdida eram de outros aspectos.
Bayard Galvão
Interpretação baseada em STAROBINSKY, Jean em a “Transparência e Obstáculo” (1991) pela Editora Companhia Das Letras, São Paulo.
Deixe um comentário