O Sentido e Significado da Vida
Situação: Avô e neto conversando sobre a vida, diálogo motivado pela vontade do jovem de viajar pelo mundo.
Neto: Quero conhecer o mundo, viver, eis minha causa e finalidade.
Avô: O quê entende por conhecer?
Neto: Entrar em contato com outras coisas.
Avô: Se for suficiente entrar em contato para conhecer, o quê conhecer? E será que conhecer é apenas entrar em contato?
Neto: Reconheço que conhecer pode ser entendido de outra maneira, mas é uma questão de saber mais do que sei.
Avô: Viver pressupõe infinitas possibilidades, dentro de um limitado tempo. Como viver bem até o fim?
Neto:…
Avô: Como, ao estar em outro lugar, você saboriaria algo melhor que as possibilidades daqui? E de novo, viver pensando o quê? Sentindo o quê? Vendo o quê? Quais sabores você deseja na sua vida? Constantes diferentes cores, toques, sons, gostos, cheiros? Será que o sentido da vida é uma questão de ver outros lugares e músicas?
Neto: Preciso buscar o sentido da minha vida!
Avô: Fala como se o sentido de sua vida estivesse em algum lugar…
Neto: Eu preciso seguir o meu coração! Meus sonhos!
Avô: Fala do coração como se este tivesse sabedoria. Ele é apenas um músculo, pulsando mais rápido quando há descarga de adrenalina provocada por uma atividade psíquica, gerando a sensação tátil e parecendo ser ele a origem em si da emoção, falar “siga seu coração!” é como falar “siga seu bíceps!”, na medida em que este é contraído de determinada forma por repetidas vezes, traz uma sensação agradável, quando, no caso, é apenas um reflexo fisiológico. E se seguir o seu coração é metáfora para o que lhe traria bem-estar, e esse se baseia nas aprendizagens passadas, então “seguir o seu coração/sonhos!” é seguir aprendizagens tidas geralmente de maneiras não aceitas, até por não serem percebidas, ou seja, é seguir o seu passado, cada vez mais sendo quem já era, cada vez mais não mudando portanto…
……….
A vida não tem significado em si, nós que o criamos, de maneira percebida ou não. Porém, nascemos com um sentido: buscar prazer e fugir da dor, também chamado de instinto. Dependendo do “objeto” com o qual se aprende a ter prazer ou dor, o sentido da vida, e por vezes seu significado, fica estabelecido segundo esse.
O sentido da vida é o direcionamento colocado ao viver, tendo como base o significado dado a essa atividade, sempre originado em 4 causas: prazer, dor, certo e errado, sempre de acordo com o indivíduo em questão.
Todos nós aprendemos a ter prazer, dor e moral (sistema de condutas de como viver) quando bebês, crianças e adolescentes. Então, ter como sentido para a vida o que se aprendeu nos primeiros anos de vida é uma reprodução do que foi aprendido.
O ideal em termos de sentido e significado da vida é formá-lo com base na Liberdade de Pensamento, sendo essa a atividade constante e cíclica de: (a) conhecer a si, os próprios valores, dores, alegrias e legados dos educadores; (b) aumentar o conhecimento na área em questão; (c) formar novos sentidos, significados e valores para a vida; (d) questionar a si com base nesses novos conhecimentos; (e) unificar essas idéias, olhando para o passado e futuro, de preferência com hipnose (para aumentar a intensidade e complexidade das idéias atuais); (f) voltando com maior ou menor freqüência ao movimento (a).
Exemplo:
(a) Mulher sofrendo por não poder se realizar como ser humano devido à sua incapacidade orgânica ser mãe. Ao buscar entender o sofrimento, descobre que aprendeu a pensar dessa maneira quando criança devido ao que ouviu e presenciou.
(b) Começa então a busca de se perguntar e responder quando uma mulher pode se considerar um bom ser humano, uma boa pessoa.
(c) Cria então para si uma definição clara, saudável e lúcida sobre quando valorizar a si como Ser Humano.
(d) Questiona então o que aprendeu atualmente sobre ser uma boa mulher com o que aprendeu no passado.
(e) Unifica essas atuais idéias olhando para o passado, presente e futuro, se possível, principalmente com fenômenos do pensamento chamados de hipnose como hipermnésia e pseudo-orientação no futuro.
(f) Volta ao (a) 6 (número mais ou menos arbitrário) meses depois.
Então, a Liberdade de Pensamento é definida não enquanto pergunta e resposta e sim o processo entre uma e outra, onde o peso e o sabor da realidade são tornados maiores devido à lucidez e responsabilidade da definição do caminho.
Como viver então? A resposta será sempre uma postura moral, qual a melhor? Quem é/foi o melhor homem para responder a toda a humanidade? Um/ “o” herói? Qual? Se herói é quem segue de maneira excelente uma moral, qual a melhor para dizer quem é herói para contar a todos os demais como viver? Para julgar todos os outros? Há “a” melhor? Não. Há aquela formada em reflexões mais ou menos livres apenas.
Todas religiões propõem uma noção de herói, ao serem tiradas as inspirações “metafísicas” das suas morais, seriam elas melhores do que outras que o próprio leitor poderia fazer para si?
Duvidar de uma moral seguida até então pode causar incerteza e possivelmente insegurança, levando sempre há uma crise existencial. Momento de redefinição da maneira de como se relacionar com as coisas, os outros e consigo mesmo. Poucas pessoas infligem em si essas possíveis dores, geralmente, as provocam apenas quando já estão com dificuldades.
Quantas pessoas ao estarem felizes perguntam a si mesmas as causas e sabedoria de sua presente sensação? Alguns frente a essas reflexões, afirmam: cresce-se na dor. Para a maioria dos indivíduos é verdade, pois apenas pensam sobre suas vidas quando sofrem, principalmente porque o refletir é tido como um remédio, mas não uma necessidade – inclusive para a felicidade racionalmente decidida – seu lema é: “viva na doce ignorância e apenas o questione quando ficar amarga”.
O lema das doces fantasias (entendidas enquanto impossibilidades do real) cria uma insensibilidade ao dia a dia, à vida, a rotina é tornada sem graça. Papai Noel, coelhinho da páscoa e outros mitos da criação matam o sabor do mel e do limão, do vinho e do amor, a realidade perde o seu sabor inebriante para quem tem sentidos e a pensa, o outro só vale como um passatempo, um “passa-vida”, a idéia de ter filhos quase sempre vêm da falta de liberdade e da incapacidade dos pais de viver consigo, da dificuldade de dar sentido a si e à família (já existente), ao amigo, ao sol e à noite.
A realidade é comumente tida como feia ou pobre se depender apenas do indivíduo. “Com medo da vida, mata-se a morte” (Vinícius de Moraes, se não me engano), ou ainda, sem saberem dar sentido à vida, ao presente, precisam da eternidade.
A vida é tida como insípida se não houver continuação após a morte, dura demais, fria demais, fugaz demais, incolor demais, surda demais, quanta insensibilidade a cada respiração, cada alimento, abraço, esforço, reflexão. Para não se matarem, por não saberem saborear as frutas da realidade nem dar sabor a elas, precisam de uma punição do além ou de alívios da vida, encontrados em grossos livros de pensadores tomados como de origem mais ou menos metafísica e/ou calmantes e antidepressivos mais ou menos aceitos.
Muitas vezes as pessoas têm como sentido na vida “um” relacionamento, mas se esse se baseia nas belezas e moral do outro, sendo elas poucas, intensas e efêmeras, da mesma maneira ocorrerá com os sentimentos, acabando por vezes o envolvimento por falta de conteúdo no amado e/ou em si para ver outros conteúdos por ele tido.
Dar sentido à vida significa assim, inventar uma bússola para o viver, a partir do qual a realidade recebe um significado.
Então, qual significado e sentido você quer criar ou aceitar para a sua vida?
Dr. Bayard Galvão
Psicólogo Clínico e Hipnoterapeuta